Archive for 19 de janeiro de 2016

Deriva dos continentes e paleogeografia

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Deriva dos continentes e paleogeografia

A teoria tectônica das placas (surgida na década de 1960) agrupa duas noções fundamentais: a deriva dos continentes e a expansão do assoalho oceânico. Assim, a comunidade de ciências da Terra passou de uma visão “fixa” do globo a um sistema litosférico em perpétuo movimento.

Os argumentos

Muitas observações e dados embasaram a ideia da deriva dos continentes:

  • a similitude da forma das bordas continentais;
  • a fauna e flora fósseis similares antes do período Mesozoico nos continentes atualmente separados;
  • sedimentos carboníferos (glaciais e hulhíferos) encontrados atualmente nos continentes, em posição incoerente com os meios a sua volta;
  • cadeias de montanhas que se tornam contínuas quando os continentes atravessados por elas são “reaproximados”;
  • dados do paleomagnetismo mostram que os continentes deslocaram-se e seguiram caminhos diferentes;
  • inversões registradas do campo magnético pela crosta oceânica mostram uma expansão contínua do assoalho oceânico.

As condições

Para que todos os dados tenham uma realidade na teoria tectônica das placas, é preciso considerar determinadas pressões, tais como:

  • a existência de uma litosfera rígida sobre a astenosfera dúctil, que permite o decuplamento mecânico do manto profundo;
  • a composição da litosfera deve ser um número finito de placas, cujos limites (zonas de subducção, falhas transformantes e dorsais) correspondem a zonas sísmicas;
  • os deslocamentos horizontais das placas devem-se aos movimentos convectivos no manto.

As grandes etapas da deriva dos continentes

No limite entre os períodos Paleozoico e o Mesozoico (há aproximadamente 250 Ma), distingue-se uma única massa continental, a Pangeia (resultante de um agrupamento continental durante o Paleozoico), rodeada de um oceano (Panthalassa). Em seguida, essa massa continental se dividiu e formou dois subconjuntos (Laurásia e Gonduana), com um novo oceano nas bordas a Oeste (Tétis). Esses blocos continentais continuaram a se fragmentar (e, eventualmente, convergir), para originar as placas e os atuais oceanos. Alguns pesquisadores extrapolam os deslocamentos atuais no futuro e preveem uma nova convergência continental “total” em 250 Ma, terminando um ciclo de aproximadamente 500 Ma.

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Tudo a ver

82-Resumos-Geologicos-CAPA-webEste texto foi retirado do livro “82 Resumos Geológicos“. A obra explica de forma didática e ilustrada os principais conceitos da geologia, além disso inclui problemas e questões de múltipla escolha para consolidar os conceitos apresentados, mapas e gráficos didáticos e palavras-chaves sobre cada tema apresentado. Aquele trabalhão de resumir a matéria em fichas está feito!

Riqueza de 1% da população supera a de 99% em 2015, mostra Oxfam

 

A riqueza acumulada por 1% da população mundial, os mais ricos, superou a dos 99% restantes em 2015, um ano mais cedo do que se previa, informou ontem (18) a organização não governamental (ONG) Oxfam, a dois dias do Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça.

“O fosso entre a parcela dos mais ricos e o resto da população aumentou de forma dramática nos últimos 12 meses”, diz relatório da ONG britânica intitulado Uma economia a serviço de 1%.

“No ano passado, a Oxfam estimava que isso fosse ocorrer em 2016. No entanto, aconteceu em 2015, um ano antes”, destaca no texto.

Para mostrar o agravamento da desigualdade nos últimos anos, a organização estima que “62 pessoas têm tanto capital como a metade mais pobre da população mundial”, quando, há cinco anos, era a riqueza de 388 pessoas que estava equiparada a essa metade.

A dois dias do Fórum Econômico Mundial de Davos, onde vão se encontrar os líderes políticos e representantes das empresas mais influentes do mundo, a Oxfam pede a ação dos países em relação a essa realidade.

“Não podemos continuar a deixar que milhões de pessoas tenham fome, quando os recursos para ajuda estão concentrados, no mais alto nível, em tão poucas pessoas”, afirma Manon Aubry, diretora dos Assuntos de Justiça Fiscal e Desigualdades da Oxfam na França, citada pela agência de notícias France Presse (AFP).

Segundo a ONG, “desde o início do século 21 a metade mais pobre da humanidade se beneficia de menos de 1% do aumento total da riqueza mundial, enquanto a parcela de 1% dos mais ricos partilharam metade do mesmo aumento”.

Para combater o crescimento dessas desigualdades, a Oxfam pede o fim da “era dos paraísos fiscais”, acrescentando que nove em dez empresas que figuram entre “os sócios estratégicos” do Fórum Econômico Mundial de Davos “estão presentes em pelo menos um paraíso fiscal”.

“Devemos abordar os governos, as empresas e as elites econômicas presentes em Davos para que se empenhem a fim de acabar com esta era de paraísos fiscais, que alimenta as desigualdades globais”, diz Winnie Byanyima, diretor-geral da Oxfam International, que estará em Davos.

No ano passado, vários economistas contestaram a metodologia utilizada pela Oxfam. A ONG defendeu o método utilizado no estudo de forma simples: o cálculo do patrimônio líquido, ou seja, os ativos menos a dívida.

A pequena localidade suíça de Davos vai acolher, a partir da próxima quarta-feira (20), líderes políticos e empresários para debater a 4ª Revolução Industrial.

Esta 46ª edição do fórum, que termina em 23 de janeiro, ocorre no momento em que o medo da ameaça terrorista e a falta de respostas coerentes para a crise de refugiados na Europa se juntam às dificuldades que a economia mundial encontra para voltar a crescer e à forte desaceleração das economias emergentes.

Segundo o presidente do fórum, Klaus Schwab, a “4ª revolução industrial refere-se à fusão das tecnologias”, principalmente no mundo digital, que “tem efeitos muito importantes nos sistemas político, econômico e social”.

Da Agência Lusa / ABr, in EcoDebate, 19/01/2016

A desigualdade precisa ser tão grande?

 Artigo de Paul Krugman

 

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“A pergunta interessante é se podemos redistribuir uma parte da renda que atualmente vai parar nas elites minoritárias, destinando-a a outros fins sem anestesiar o progresso econômico”, escrevePaul Krugman, economista, prêmio Nobel de economia, em artigo publicado por El País, 17-01-2016.

Eis o artigo.

Até que ponto é preciso que os ricos sejam tão ricos? Não é uma pergunta fútil. É possível dizer que, no fundo, é em torno disso que gira a política nos Estados Unidos. Os progressistas querem aumentar os impostos sobre a renda mais alta e usar o que for arrecadado para reforçar a rede de seguridade social; os conservadores querem fazer o contrário e afirmam que as políticas que atingem os ricos são prejudiciais a todos, ao reduzir os incentivos para a criação de riqueza.

A história recente não ajuda muito a posição conservadora. O presidente Barack Obamaaumentou consideravelmente os impostos para as faixas mais altas, e sua reforma da saúde representa a maior ampliação do Estado de bem-estar social desde Lyndon B. Johnson(presidente dos EUA de 1963 a 1969). Os conservadores previram um desastre inevitável, como tinham feito quando Bill Clinton elevou os impostos sobre o 1% de maior renda. Só queObamaacabou sendo responsável pela maior criação de empregos desde a década de 1990. Apesar disso, existe alguma razão, numa perspectiva mais ampla, para justificar uma grande desigualdade?

Não vai ser surpresa para você ouvir que muitos membros da elite econômica acham que há. Também não vão estranhar se eu disser que não concordo, que acredito que a economia pode prosperar com muito menos concentração de renda e de riqueza na ponta da pirâmide econômica. Mas por que creio nisso?

Parece-me útil refletir sobre isso recorrendo a três modelos que explicariam a origem da desigualdade extrema, já que a economia real toma elementos dos três.

Em primeiro lugar, uma enorme desigualdade poderia ser explicada pela existência de grandes diferenças de produtividade entre alguns indivíduos e outros: algumas pessoas são capazes de dar uma contribuição centenas ou milhares de vezes superior à média. Essa é a opinião manifestada num ensaio recente muito citado, cujo autor é o investidor de capital de risco Paul Graham, muito popular no Vale do Silício (ou seja, entre pessoas que ganham centenas ou milhares de vezes mais que os trabalhadores comuns).

Em segundo lugar, uma grande desigualdade poderia se dever em especial à sorte. No clássico do cinema O Tesouro de Sierra Madre, um velho garimpeiro de ouro explica que esse metal vale tanto —e quem o encontra fica rico— graças ao trabalho de todos que foram em busca de ouro sem encontrá-lo. De forma semelhante, poderíamos ter uma economia na qual quem fica com o grande prêmio não é necessariamente quem tem a melhor preparação ou trabalha mais, e sim quem tem a sorte de estar no lugar certo no momento certo.

Em terceiro lugar, a causa das grandes desigualdades poderia ser o poder: os executivos das grandes empresas que podem determinar sua própria remuneração, os espertalhões das finanças que ficam ricos com informação privilegiada ou recebendo honorários injustos de investidores ingênuos.

Como já disse, a economia real tem elementos dessas três histórias. Seria estupidez negar que algumas pessoas sejam, de fato, muito mais produtivas que a média. Mas seria estupidez também negar que um grande sucesso nos negócios (na verdade, também em qualquer outra coisa) dependa bastante da sorte; não só a sorte de ser o primeiro a ter uma ideia ou estratégia muito rentável, mas também de ter nascido na família certa.

E claro que o poder também é um fator importante. Lendo alguém como Graham, é possível imaginar que os ricos dos Estados Unidos sejam, na maioria, empreendedores. Na verdade, o 0,1% mais rico é composto principalmente por executivos. E embora alguns deles tenham amealhado sua fortuna embarcando em operações arriscadas, o mais provável é que a maioria tenha chegado lá subindo uma sólida escada empresarial. E o aumento da renda dos que estão acima de todos é reflexo dos estratosféricos salários dos executivos, não de prêmios à inovação.

Mas, em todo caso, a pergunta interessante é se podemos redistribuir uma parte da renda que atualmente vai parar nas elites minoritárias, destinando-a a outros fins sem anestesiar o progresso econômico.

Não venham dizer que a redistribuição é um mal por si só. Mesmo que a renda elevada fosse um reflexo perfeito da produtividade, os resultados do mercado não equivaleriam a uma justificativa moral. E, visto que a riqueza costuma ser reflexo da sorte ou do poder, há muitos argumentos a favor de que parte dessa riqueza seja recolhida na forma de impostos e usada para fortalecer a sociedade como um todo, desde que não sejam destruídos os incentivos para continuar criando mais riqueza.

E não há motivos para pensar que eles seriam destruídos. Se olharmos para trás, os Estados Unidos alcançaram seu crescimento e seu progresso tecnológico mais rápidos durante as décadas de 1950 e 1960, embora os impostos fossem muito mais altos e a desigualdade, muito menor que hoje em dia.

No mundo atual, os países com impostos elevados e pouca desigualdade, como a Suécia, são também muito inovadores e têm muitas empresas criadas recentemente. Isso pode ser devido, em parte, ao fato de uma rede de seguridade social sólida incentivar que se assumam riscos: as pessoas se dispõem a procurar ouro, mesmo que o sucesso da empreitada não as deixe tão ricas quanto antes, quando sabem que não vão morrer de fome caso voltem de mãos vazias.

Enfim, voltando à minha pergunta inicial, não, os ricos não precisam ser tão ricos como são. A desigualdade é inevitável; a desigualdade extrema que existe hoje nos Estados Unidos não é.

(EcoDebate, 19/01/2016) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.

Classe A tem maior fatia da renda do País

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,classe-a-tem-maior-fatia-da-renda-do-pais,10000007285

LUIZ GUILHERME GERBELLI – O ESTADO DE S.PAULO

16 Janeiro 2016 | 20h 00

Estudo com base nos dados da Receita Federal aponta que a distribuição de renda é pior que a mostrada pelos números da Pnad

Distante. Renda da classe A é 40,9 vezes maior que a da D|E
Distante. Renda da classe A é 40,9 vezes maior que a da D|E

A distribuição de renda no Brasil é pior do que se imaginava. Um estudo elaborado pela Tendências Consultoria Integrada mostrou que a classe A – famílias com rendimento superior a R$ 14.695 – detém uma fatia ainda maior da massa de renda nacional.

O levantamento elaborado pelos economistas Adriano Pitoli, Camila Saito e Ernesto Guedes foi feito com base nos dados da Receita Federal e mostrou que as 2,5 milhões de famílias da classe A são responsáveis por 37,4% da massa da renda nacional. Nos dados mais conhecidos, obtidos por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), estimava-se que os mais ricos tenham 16,7% da renda nacional.

Os economistas chegaram ao novo número sobre distribuição de renda com base numa espécie de Pnad ajustada. O ajuste foi feito analisando a renda de duas formas. Para as famílias com ganhos de até cinco salários mínimos, foram utilizados os dados tradicionais da Pnad. Para as faixas mais ricas, o estudo levou em conta as declarações de Imposto de Renda.

“Todo mundo sabia que a desigualdade de renda no Brasil era enorme, mas ela é muito maior do que se imaginava”, afirma Adriano Pitoli.

Dados omitidos. A vantagem de analisar os dados da Receita para as classes mais ricas é explicada pelo fato de a Pnad ser declaratória e, portanto, limitada para mensurar dados envolvendo fontes de renda com ativos financeiros e aluguéis.

“As pesquisas declaratórias (como a Pnad) são ineficientes para capturar a renda de aplicações financeiras, aluguéis e ganhos de capital”, afirma Pitoli. “Na verdade, ninguém tem esses números de cabeça.”

O exercício da Tendências deixa evidente a dificuldade da Pnad em apurar o tamanho da desigualdade brasileira. Nas famílias com renda entre cinco e dez salários mínimos, a massa de renda apurada pela Pnad é 13% menor do que mostra o dado da Receita Federal. A diferença é crescente conforme o topo da pirâmide se aproxima.

Na faixa de brasileiros com ganhos acima de 160 salários mínimos, a massa de renda captada pela Pnad é 97% menor do que os dados obtidos pela análise do Imposto de Renda.

“A desigualdade com base nos dados da Pnad é menor do que mostram os dados da Receita”, afirma Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper. “Existe uma dificuldade da Pnad em captar a renda da fatia mais rica da população.”

Abismo entre classes. O estudo da consultoria Tendências também chegou a outras duas conclusões relevantes: o abismo entre as classes sociais é maior do que se imaginava e as classes A e B são um pouco maiores do que indicavam as pesquisas tradicionais.

Pela Pnad tradicional, a classes A responde por 2% do total das famílias brasileiras, e a classe B, por 12,6%. Nos dados ajustados pela consultoria, a fatia das classes aumenta para 3,6% e 15%, respectivamente.

Com relação ao distanciamento entre as classes sociais, o estudo da consultoria apontou que a renda das famílias da classe A é 40,9 vezes maior do que as da classe D/E. Na Pnad original, a diferença apurada era de 23,3 vezes.

“A intenção do estudo não é substituir os dados da Pnad e da Receita. O exercício é continuar olhando a Pnad para as classes de menor renda, e na faixa das classes de maior renda fazer os ajustes para eliminar o viés da omissão de renda”, afirma Pitoli.

 

 

Aumento do desemprego deve piorar distribuição de renda

LUIZ GUILHERME GERBELLI – O ESTADO DE S.PAULO

16 Janeiro 2016 | 20h 00

Deterioração do mercado de trabalho e aumento do diferencial de salários podem reverter melhora social dos últimos anos

Alívio. Alessandro vai trabalhar no carnaval
Alívio. Alessandro vai trabalhar no carnaval

O aumento do desemprego deve estancar ou até mesmo reverter a melhora social observada nos últimos anos. No período de crescimento econômico, entre 2004 e 2013, a formalização do mercado de trabalho e os aumentos reais dos salários ajudaram a melhorar o quadro social da economia brasileira.

As estatísticas mais recentes mostram a forte deterioração do mercado de trabalho, que pode levar a uma piora da distribuição de renda. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua divulgados na sexta-feira mostraram que a taxa de desemprego chegou a 9% no trimestre encerrado em outubro de 2015 – a maior da série histórica iniciada em 2012. No mesmo trimestre de 2014, a taxa era de 6,6%.

Nos anos de forte crescimento da economia brasileira, o mercado de trabalho contribuiu para a redução da desigualdade social por meio da queda do diferencial de salários. Ou seja, trabalhadores menos qualificados tiveram aumentos salariais maiores do que quem estava no topo da renda nacional.

Com a piora do mercado de trabalho, essa reversão já pode ser observada. No ano passado, pelos dados da Pnad Contínua, o salário médio de um brasileiro com curso superior era 342% maior que o de um trabalhador sem instrução ou com o ensino fundamental incompleto. Em 2014, a diferença era de 332%.

“A desigualdade por meio do diferencial de salário começou a aumentar nos últimos meses”, diz Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper e responsável pelos dados. “Esse cenário reflete a piora da situação dos menos qualificados”, diz. Uma análise mais certeira do estrago que crise atual causou ou não na distribuição de renda do País só será possível quando todas as fontes de renda da economia estiverem disponíveis.

Reversões de melhorias. Para o brasileiro, o aumento do desemprego tem significado uma série de regressos nas melhorias conquistadas nos últimos anos. A vigilante patrimonial Adriana Ferreira, de 36 anos, está desempregada há um ano. No seu processo de ajuste pessoal, teve de cortar a TV a cabo, o telefone fixo e o lazer. “Antes, a minha família passeava e viajava mais”, conta Adriana. “As crianças se vestiam melhor. Até isso deu uma caída.”

Para o pizzaiolo Alessandro José Neto, de 43 anos, o desemprego chegou há dois anos e custou uma casa na praia e a venda de um carro. “Se a pessoa desempregada não faz bico, ela passa fome”, afirma. Na semana passada, conseguiu um emprego. Vai ajudar na limpeza do carnaval de São Paulo por dez dias.

Também é com emprego temporário que o açougueiro Alexandro Oliveira Santos, 42 anos, vai sobrevivendo. “Tem de correr atrás do serviço. Já fiz bico para fazer pintura e até segurança encarei. Não posso deixar meu filho passar fome.” Ele está desempregado há nove meses.

Brasil infraestrutura (2016)

Para analistas, potencial real das concessões é de 20% do projetado

ALEXA SALOMÃO – O ESTADO DE S.PAULO

Infraestrutura. Expectativa do governo é destravar este ano leilões de 21 projetos nas áreas de rodovias, ferrovias, aeroportos e portos, com investimentos de R$ 70 bi; mas, para analistas, dado o cenário econômico, apenas R$ 13 bi têm real chance de sair do papel

 
 

O governo tenta neste ano destravar o leilão de pelo menos 21 concessões na área de transporte. Se for bem-sucedido, estará dada a largada para o investimento de quase R$ 70 bilhões na expansão de aeroportos, portos, rodovias e ferrovias. Mas, na avaliação de especialistas, o potencial de atração de investimentos é bem menor, de R$ 13 bilhões, cerca de 20% do total.

As concessões seriam uma alternativa para superar, em parte, a paralisia que toma conta da área de infraestrutura. “Temos uma série de projetos com muita atratividade e estamos conversando com investidores de todas as áreas, fazendo ajustes, para que os leilões sejam bem- sucedidos”, diz Maurício Muniz, Secretário do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no Ministério do Planejamento, que está na coordenação das concessões.

Mas analistas consultados pelo Estado afirmam que conseguir deslanchar esse processo não será tarefa fácil, dado o atual cenário político e econômico. Ao longo de todo o ano de 2015, o ajuste fiscal levou a cortes em obras bancadas pelo poder público. Pesou contra também o fato de grandes construtoras terem sido arrastadas pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal.

A expectativa para 2016 é tão ruim quanto a do ano passado: há atrasos nos pagamentos de projetos e suspensão dos trabalhos em canteiros espalhados pelo País. O governo estuda até um chamado “Novo PAC” para reanimar a indústria da construção civil.

A retomada nesse segmento teria efeito multiplicador benéfico. Estudos indicam que, para cada R$ 1 investido em infraestrutura, cria-se um efeito indireto da ordem de R$ 1,5 na economia como um todo.

Isso ocorre porque a infraestrutura movimenta diferentes setores, criando efeitos positivos sobre a geração de emprego e renda. Concluídos, os projetos ainda elevam a qualidade e a agilidade dos serviços.

Cenário magro. Para que as concessões vinguem, entretanto, o governo precisa contornar uma série de obstáculos. O maior deles é o temor dos investidores de fazer investimentos num momento em que já se sabe que a recessão brasileira será longa. “O cenário é magro”, define Frederico Bopp Dieterich, advogado especializado em infraestrutura do Azevedo Sette Advogados. O escritório participou de mais de 100 projetos de infraestrutura nos últimos cinco anos, a maioria de grande porte, como rodovias federais e aeroportos internacionais.

Para se ter uma ideia do período de baixa que o setor atravessa, os negócios mais vibrantes do ano passado foram pequenos e médios empreendimentos em saneamento, hospitais e iluminação pública.

“Temos conversado muito com clientes e clientes em potencial: a palavra de todo mundo é cautela. A prioridade é fazer a defesa do caixa. Estão postergando investimentos e quem for para um leilão vai muito focado no que fielmente lhe interessa”, diz Dieterich.

Oferta de crédito. Outro desafio do governo será recuperar a confiança dos investidores. “Hoje, você não sabe exatamente onde esse governo quer chegar”, diz Dieterich. “Antes, com Joaquim Levy na Fazenda, havia uma divisão dentro do governo. Com a saída dele, agora essa divisão é menor, mas, a rigor, ninguém sabe o que vem por aí: precisamos esperar para ver.”

Na avaliação de Cláudio Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios, essa desconfiança generalizada afeta um componente importantíssimo para a realização das concessões: a oferta de crédito.

“Até o fim do ano passado, a perspectiva era de que os recursos viriam do mercado internacional, primeiro porque há uma oferta de capital e juros baixos globais – na casa de 3,5% – e depois porque os ativos brasileiros, por conta do efeito do câmbio, ficaram baratos”, diz o consultor. “Isso deixou de ser óbvio agora, pois a saída do Levy está gerando desconforto entre os investidores – e eu falo com muitos investidores.”

O dinheiro internacional é considerado fundamental, num momento em que outras formas de financiamento, como debêntures de infraestrutura, não decolam e que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deixou de assinar uma série de financiamentos de longo prazo com boa parte das concessões já leiloadas.

Planilha. Para uma parcela dos consultores, em paralelo ao lançamento de novas concessões, o governo deveria atuar para também destravar as já existentes, que ficam paralisadas ou avançam lentamente por causa de impasses regulatórios, ambientais ou de financiamento.

“O governo deveria fazer uma planilha de Excel, com todos os projetos concedidos de dois anos para cá, sistematizar em que pé estão e chamar os órgãos envolvidos para fazer essa máquina emperrada andar”, sugere o consultor econômico Raul Velloso, autor do livro Investimento em Infraestrutura no Brasil: Continuar Investindo, Apesar do Ajuste, em que ele defende a área como alavanca para tirar o Brasil da recessão.

Em outra frente, avalia Velloso, o governo teria de rever algumas travas do atual modelo de concessões, que acaba, inibindo os investimentos.

Segundo ele, uma dessas travas é “a nuvem densa” da chamada modicidade tarifária: o governo insistir em intervir na taxa de retorno das empresas, ao longo de todo o período da concessão, para manter a tarifa o mais barato possível, não importa que mudanças ocorram na economia ou percalços no projeto.

“Essa nuvem paira sobre as empresas não apenas no leilão, mas ao longo da construção e de todo o período da concessão, desestimulando novos investimentos”, diz Velloso.

 

Conheça cinco inovações que podem ajudar as cidades brasileiras

De carros elétricos compartilhados a vagões de trem externos para bicicletas, iniciativas buscam soluções para mobilidade nas grandes cidades
por Redação — publicado 18/01/2016 14h32, última modificação 18/01/2016 19h21
Reprodução
car sharing

Veículos compartilhados são carregados

A mobilidade tem se mostrado um desafio aos centros urbanos. Das metrópoles a cidades menores, a locomoção é um tema que carece de inovações. Ainda que São Paulo tenha adotado ideias que visam aliviar o tráfego ou mesmo conectar diferentes modalidades de transporte, os seus quase 11 milhões de habitantes urgem soluções que viabilizem o funcionamento mínimo da cidade. O mesmo se passa nas outras grandes metrópoles do País, que muitas vezes terão de se inspirar em outras cidades ao redor do mundo.

Conheça, a seguir, cinco ideias que inspiraram ou podem contribuir para a mobilidade das cidades brasileiras:

 

Carsharing de veículos elétricos

Apesar de existirem de forma tímida em cidades brasileiras como São Paulo e Recife, os sistemas de compartilhamento de veículos começaram na França e nos Estados Unidos. A ideia do compartilhamento de carros visa diminuir tanto o tráfego quanto as emissões de gases poluentes. Assim, nos últimos anos, companhias de carsharing têm incluído mais veículos elétricos (EVs, em inglês). Há, no entanto, problemas recorrentes que a iniciativa pode encontrar, como a falta de estações de recarga e a falta de um sistema para conectar o veículo a outros meios de mobilidade. Tal dinâmica começou a ser testada em Munique, em 2014, com um carro-conceito, que permite a comunicação veículo-infraestrutura, compartilhamento de dados e recarga de bateria por rede sem fio.

 

Trem com vagão externo para bicicletas

Em Stuttgart, na Alemanha, os trens de uma linha férrea possuem um vagão externo exclusivo para que ciclistas estacionem suas bikes e viagem dentro da cidade. Esses vagões da parte de fora funcionam como paraciclos, sendo que os ciclistas viajam sem a bicicleta, pegando-a no momento do desembarque. Diferentemente de outras iniciativas, como na rede de transporte público de Berlim onde se paga uma taxa extra para se levar a bicicleta, no caso dos vagões externos não há taxa adicional pelo serviço.

 

Troca de garrafas PET por passagens de metrô

Em Pequim, os moradores da capital chinesa podem pagar suas passagens de metrô com garrafas PET. O sistema funciona com máquinas em que o usuário deposita até 15 garrafas de plástico e pode se locomover por todas as oito linhas de metrô, ao longo de suas mais de 100 estações. Depois de coletadas, as garrafas recicláveis seguem para uma central onde são processadas para que o plástico assuma outros fins de uso. Em 2013, uma ação teste realizada no metrô do Rio de Janeiro durante o Carnaval permitiu o passe livre para quem apresentassem uma lata de cerveja vazia nas catracas. A ideia era incentivar os foliões a não dirigir depois de beber.

 

Rodovia para ciclistas

Uma rodovia exclusiva para ciclistas com 60 km de extensão ligando as cidades de Dortmund a Duisburg, na Alemanha. É o que promete o projeto intitulado Radler B-1. A ideia surgiu depois da experiência positiva com a autoestrada A-40, que ficou três anos sendo fechada aos finais de semana para virar um espaço de recreação e passeio. Com o aumento considerável no fluxo, resolveu-se criar a rodovia destinada para os ciclistas, que, além das faixas asfaltadas, terá iluminação púbica e barreira de proteção. Além disso, não possuirá cruzamentos, de modo a aumentar a segurança dos ciclistas. A previsão é que a Radler B-1 comece a funcionar em 2021. Aqui, uma rodovia desse tipo contribuiria para o deslocamento de pessoas que moram e trabalham em cidades diferentes, porém próximas ou mesmo dentro de uma mesma megalópole.

 

Carona solidária

Apesar de existirem de forma crescente, porém ainda inicial em cidades do Brasil como São Paulo, ferramentas de economia colaborativa e carona solidária ganharam força no México e vêm causando polêmica. Além de aplicativos à la Uber, voltados para deslocamentos dentro de uma mesma cidade, outros focam em viagens mais longas, como o Tripda. Nele, os usuários podem publicar anúncios de suas próximas viagens e oferecer lugares em seus veículos, segundo o preço que estabelecerem. O foco são jovens entre 18 e 30 anos. As ferramentas de iniciativa têm sido alvo de intensos protestos, especialmente de cooperativas e empresas de táxi.

Organizações lançam carta sobre neutralidade de rede contra Facebook

Carta a Zuckerberg reafirma a preocupação com o acesso à informação na web e com as práticas da rede
por Intervozes — publicado 18/01/2016 12h39, última modificação 18/01/2016 12h52
Roberto Stuckert Filho / PR
Dilma Rousseff e Mark Zuckerberg

Dilma Rousseff e Mark Zuckerberg em abril de 2015: Facebook tem cada vez mais poder político

Por Marina Cardoso*

Organizações de todo o mundo estão divulgando uma carta aberta ao dono do Facebook, Mark Zuckerberg. O motivo: a preocupação com o futuro da World Wide Web, que pode ser catastrófico em termos de diversidade e liberdade de expressão.

A rede social, cada dia mais influente nos países em desenvolvimento, insiste em lançar o Free Basics, antes denominado Internet.org. O projeto pretende, por meio de acordo com prestadoras de serviço de internet móvel, oferecer alguns conteúdos sem cobrança dos dados trafegados – o que fere a neutralidade de rede.

Para isso, o Facebook tem usado sua rede para divulgar informações equivocadas e sem embasamento e colocar usuários contra os defensores de uma internet aberta e universal.

A construção da carta partiu da iniciativa da organização indiana Access Now. Naquele país, o Facebook criou e divulgou uma petição contra os defensores da neutralidade de rede e inflamou seus usuários contra eles.

No entanto, organizações de todo o mundo assinaram a carta aberta ao dono do Facebook, porque os problemas enfrentados naquele país são os mesmos que já enfrentamos na América Latina, no continente africano e em outras partes do planeta.

No sul global, o Facebook tem a oportunidade de travestir os interesses de seus acionistas – que precisam de mais dados de cada vez mais pessoas – em ações que são propagandeadas como coisas que beneficiam uma população, o que eleva a sua capacidade de influência política, social e econômica.

No Brasil, apesar da aprovação do Marco Civil da Internet – que garante a neutralidade de rede como princípio – a falta de uma regulação e o próprio Governo Federal abrem espaço para o Facebook avançar com seus planos em relação ao Free Basics.

Do lado do poder público, essa abertura revela o descaso não só com o Marco Civil, como também com a construção de políticas públicas que garantam que todos os cidadãos e cidadãs tenham acesso à internet. É uma terceirização de um compromisso do Estado brasileiro.

No caso do Free Basics, vale destacar que o aplicativo ainda não tem acesso liberado pelas operadoras. No entanto, o mesmo não pode se dizer do aplicativo tradicional, que é liberado da cobrança de dados por ao menos duas operadoras no País.

As organizações que defendem uma internet plural e aberta não podem aceitar que apenas um aplicativo tenha seu acesso liberado. Isto significa dar poder extremo a uma única empresa, limitar a capacidade das pessoas de acessar o conhecimento e fere de morte a capacidade de inovação da web. A ação do Facebook de usar seu poder na web para incitar usuários contra as regras de neutralidade aprovadas na Índia é um exemplo prático.

Para alguns, a popularidade de um programa que libere redes sociais justificaria o acordo com o governo brasileiro. Infelizmente, há os que ainda não aprenderam que os fins não justificam os meios.

Uma internet limitada a uma plataforma, que terá o poder de controlar o que os brasileiros acessam e não acessam, pode significar um entrave insuperável para a recente democracia brasileira. Apenas a universalização do acesso à web responde à necessidade de ampliação de vozes do Brasil atual.

Confira a carta na íntegra aqui.

*Marina Cardoso é jornalista e integrante do Conselho Diretor do Intervozes.